ESTÁDIO INICIAL DE SUCESSÃO EM FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL: IMPLICAÇÕES PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA

Autores

  • Roque Cielo-Filho Instituto Florestal
  • Joice Aparecida Dias de Souza Instituto Florestal
  • Geraldo Antonio Daher Corrêa Franco Instituto Florestal

DOI:

https://doi.org/10.24278/2178-5031.2013251421

Palavras-chave:

legislação ambiental, regeneração natural, restauração ecológica, sucessão secundária

Resumo

Projetos de recuperação florestal no Estado de São Paulo devem seguir um conjunto de normas legais que inclui, entre outros aspectos, o número total de espécies a serem plantadas. Contudo, questiona-se o embasamento ecológico dessas normas e a sua coerência com mecanismos que atuariam na organização das comunidades vegetais. Neste trabalho, apresentamos uma abordagem para o desenvolvimento de modelos de recuperação florestal que visa a atender às metas legais e, ao mesmo tempo, incorporar mecanismos ecológicos presumivelmente importantes na recuperação florestal baseada no plantio de mudas. Para isso, desenvolvemos um modelo básico de restauração, a partir de informações obtidas em um estudo fitossociológico do componente arbustivo-arbóreo da vegetação em estádio inicial de sucessão secundária na Floresta Estadual de Avaré – SP. O modelo básico deixou de atender a quatro das oito metas definidas pela legislação e foi modificado, incorporando-se informações de um estudo florístico da mesma vegetação, tendo em vista o atendimento de todas as metas legais, mas preservando a estrutura interna que lhe confere coerência ecológica. Nessa abordagem, as informações oriundas dos estudos florístico e fitossociológico auxiliam na definição das espécies a serem plantadas e os dados fitossociológicos permitem definir a densidade de cada espécie. Assim, obteve-se um modelo recomendado para projetos de restauração florestal na região da área de estudo, em sítios apresentando condições abióticas similares. A abordagem proposta pode ser aplicada também em outras situações, permitindo o desenvolvimento de modelos adequados a diferentes contextos ambientais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AIDE, T.M. et al. Forest regeneration in a chronosequence of tropical abandoned pastures: implications for restoration ecology. Restoration Ecology, v. 8, n. 4, p. 328-338, 2000.

ARONSON, J.; DURIGAN, G.; BRANCALION, P.H.S. Conceitos e definições correlatos à ciência e à prática da restauração ecológica. IF Sér. Reg., n. 44, p. 1-38, 2011a.

______. et al. What role should government regulation play in ecological restoration? Ongoing debate in São Paulo State, Brazil. Restoration Ecology, v. 19, n. 6. p. 690-695, 2011b.

ARZOLLA, F.A.R.D.P. Florestas secundárias e a regeneração natural de clareiras antrópicas na Serra da Cantareira, SP. 2011. 141 f. Tese (Doutorado em Biologia Vegetal) ‒ Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. BARBOSA, L.M. Considerações gerais e modelos de recuperação de formações ciliares. In: RODRIGUES, R.R.; LEITÃO FILHO, H.F. (Ed.). Matas ciliares: conservação e recuperação. São Paulo: EDUSP, 2000. p. 289-312.

BAWA, K.S.; PERRY, D.R.; BEACH, J.H. Reproductive biology of tropical lowland rain forest trees. I. Sexual systems and incompatibility mechanisms. Amer. J. Bot., v. 72, n. 3, p. 331-345, 1985.

BELLOTTO, A. et al. Monitoramento das áreas restauradas como ferramenta para avaliação da efetividade das ações de restauração e para redefinição metodológica. In: RODRIGUES, R.R.; BRANCALION, P.H.S.; ISERNHAGEN, I. (Org.). Pacto pela restauração ecológica da Mata Atlântica: referencial dos conceitos e ações de restauração florestal. São Paulo: Instituto BioAtlântica, 2009. p. 128-146.

BRACALION, P.H.S. et al. Instrumentos legais podem contribuir para a restauração de florestas tropicais biodiversas. Revista Árvore, v. 34, n. 3, p. 455-470, 2010.

______.; GANDOLFI, S.; RODRIGUES, R.R. Restauração baseada na sucessão determinística, buscando reproduzir uma floresta definida como modelo. In: RODRIGUES, R.R.; BRANCALION, P.H.S.; ISERNHAGEN, I. (Org.). Pacto pela restauração ecológica da Mata Atlântica: referencial dos conceitos e ações de restauração florestal. São Paulo: Instituto BioAtlântica, 2009. p. 24-30.

CHEUNG, K.C. Regeneração natural em áreas de Floresta Atlântica na Reserva Natural Rio Cachoeira, Antonina, PR. 2006. 69 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Conservação) ‒ Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

CIELO-FILHO, R.; GNERI, G.A.; MARTINS, F.R. Sampling effort and factors influencing the precision of estimates of tree species abundance in a tropical forest stand. Phytocoenologia, v. 39, n. 4, p. 377-388, 2009a.

______. et al. Ampliando a densidade de coletas botânicas na região de bacia hidrográfica do Alto Paranapanema: caracterização florística da Floresta Estadual e da Estação Ecológica de Paranapanema. Biota Neotropica, v. 9, n. 3, p. 255-276, 2009b.

______.; GNERI, G.A.; MARTINS, F.R. Sampling precision and variability of tree species abundance ranks in a semideciduous Atlantic forest fragment. Community Ecology, v. 12, n. 2, p. 188-195, 2011.

______. et al. Aspectos florísticos da Estação Ecológica de Itapeva, SP: uma unidade de conservação no limite meridional do bioma Cerrado. Biota Neotropica, v. 12, n. 2, p. 147-166, 2012.

CONTIERI, W.A.; VILAS BÔAS; KAWABATA, M. Comparação entre técnicas de preparo do solo para o plantio de espécies arbóreas nativas em área de Cerrado. In: VILAS BÔAS, O.; DURIGAN, G. (Ed.). Pesquisas em conservação e recuperação ambiental no oeste paulista: resultados da cooperação Brasil/Japão. São Paulo: Páginas & Letras, 2004. p. 377-384.

DURIGAN, G. et al. Normas jurídicas para a restauração ecológica: uma barreira a mais para dificultar o êxito das iniciativas? Revista Árvore, v. 34, n. 3, p. 471-485, 2010.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA ‒ EMBRAPA. Sistema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2006. 306 p.

FORZZA, R.C. et al. Catálogo de plantas e fungos do Brasil. Rio de Janeiro: Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2012.

GASTON, K.J. Rarity. London: Chapman & Hall, 1994. 205 p.

GUARIGUATA, M.R.; OSTERTAG, R. Neotropical secondary forest succession: changes in structural and functional characteristics. Forest Ecology and Management, v. 148, n. 1-3, p. 185-206, 2001.

LEITÃO FILHO, H.F. Aspectos taxonômicos das florestas do estado de São Paulo. In: CONGRESSO NACIONAL SOBRE ESSÊNCIAS NATIVAS, 1982, Campos do Jordão. Anais... São Paulo: UNIPRESS, 1982. p. 197-206. (Silvic. S. Paulo, v. 16A, pt. 1, 1982, Edição especial).

______. Considerações sobre a florística de florestas tropicais e subtropicais do Brasil. IPEF, v. 35, p. 41-46, 1987.

MARTÍNEZ-GARZA, C.; HOWE, H.F. Restoring tropical diversity: beating the time tax on species loss. Journal of Applied Ecology, v. 40, n. 2. p. 223-229, 2003.

MARTINS, S.V.; RODRIGUES, R.R. Gap-phase regeneration in a semideciduous mesophytic forest, south-eastern Brazil. Plant Ecology, v. 163, p. 51-62, 2002.

______. et al. Caracterização do dossel e do estrato de regeneração natural no sub-bosque e em clareiras de uma Florestal Estacional Semidecidual no município de Viçosa, MG. Revista Árvore, v. 32, n. 4, p. 759-767, 2008.

MUELLER-DOMBOIS, D.; ELLENBERG H. Aims and methods of vegetation ecology. New York: John Wiley and Sons, 1974. 547 p.

OLIVEIRA, R.R. Ação antrópica e resultantes sobre a estrutura e composição da Mata Atlântica na Ilha Grande, RJ. Rodriguésia, v. 53, n. 82, p. 33-58, 2002.

OLIVEIRA-FILHO, A.T.; FONTES, M.A.L. Patterns of floristic differentiation among Atlantic Forests in Southeastern Brazil and the influence of climate. Biotropica, v. 32, p. 793-810, 2000.

PEZZATTO, A.W.; WISNIEWSKI, C. Produção de serapilheira em diferentes seres sucessionais da Floresta Estacional Semidecidual no Oeste do Paraná. Floresta, v. 36, n. 1, p. 111-120, 2006.

PIJL, L.V. Principles of dispersal in higher plants. Berlim: Springer-Verlag, 1982. 214 p.

PUIG, H. A floresta tropical úmida. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 2008. 476 p.

RAMOS, V.S. et al. Árvores da Floresta Estacional Semidecidual: guia de identificação de espécies. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. 312 p.

RIBEIRO, M.C. et al. The Brazilian Atlantic Forest: how much is left, and how is the remaining forest distributed? Implications for conservation. Biological Conservation, v. 142, n. 6, p. 1141-1153, 2009.

RODRIGUES, R.R.; BRANCALION, P.H.S.; ISERNHAGEN, I. (Org.). Pacto pela restauração da Mata Atlântica: referencial dos conceitos e ações de restauração florestal. São Paulo: Instituto BioAtlântica, 2009. 256 p.

______. et al. Large-scale ecological restoration of high-diversity tropical forests in SE Brazil. Forest Ecology and Management, v. 261, n. 10, p. 1605-1613, 2011.

SÃO PAULO (Estado). Resolução SMA nº 48, de 21 de setembro de 2004. Lista Oficial das Espécies da Flora do Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.ibot.sp.gov.br>. Acesso em: 10 dez. 2008.

SÃO PAULO (Estado). Resolução SMA nº 8, de 1 de fevereiro de 2008. Fixa a orientação para o reflorestamento heterogêneo de áreas degradadas e dá providências correlatas. Diário Oficial do Estado de São Paulo, Poder Executivo, v. 118, n. 21, 1 fev. 2008. Seção I, p. 31.

SENTELHAS, P.C. et al. BHBRASIL ‒ balanços hídricos climatológicos de 500 localidades brasileiras. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz: Universidade de São Paulo, 1999. Disponível em: <http://www.leb.esalq.usp.br/bhbrasil/Saopaulo/>. Acesso em: 1 dez. 2010.

SIMINSKI, A. et al. Secondary forest succession in the Mata Atlântica, Brazil: floristic and phytosociological trends. ISRN Ecology, v. 2011, p. 1-19, 2011.

SOUZA, V.C.; LORENZI, H. Botânica sistemática: guia ilustrado para identificação das famílias de Fanerógamas nativas e exóticas do Brasil, baseado em APG III. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2012. 768 p.

SWAINE, M.D.; WHITMORE, T.C. On the definition of ecological species groups in tropical rain forests. Vegetatio, v. 75, n. 1, p. 81-86, 1988.

TABARELLI, M.; MANTOVANI, W. A regeneração de uma floresta tropical após corte e queima (São Paulo-Brasil). Rev. Bras. Biol., v. 59, n. 2, p. 239-250, 1999.

TOREZAN, J.M.D. Estudo da sucessão secundária, na floresta ombrófila densa submontana, em áreas anteriormente cultivadas pelo sistema de “coivara”, em Iporanga, SP. 1995. 89 f. Dissertação (Mestrado em Botânica) ‒ Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

VELOSO, H.P.; RANGEL-FILHO, A.L.R.; LIMA, J.C.A. Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro: IBGE, 1991. 124 p.

VENZKE, T.S. Florística de comunidades arbóreas no Município de Pelotas, Rio Grande do Sul. Rodriguésia, v. 63, n. 3, p. 571-578, 2012.

______.; MARTINS, S.V. Aspectos florísticos de três estágios sucessionais em mata ciliar em Arroio do Padre, extremo sul do Brasil. Floresta, v. 43, n. 2, p. 191-204, 2013.

VIANA, V.M.; TABANEZ, A.A.J. Biology and conservation of forest fragments in the Brazilian Atlantic Moist forest. In: SCHELHAS, J.; GREENBERG, R. (Ed.). Forest patches in tropical landscapes. Washington, D.C.: Island Press, 1996. p. 151-167.

______.; ______.; BATISTA, J.L.F. Dynamics and restoration of forest fragments in the Brazilian Atlantic Moist forest. In: LAURENCE, W.F.; BIERREGAARD Jr., R.O. (Ed.). Tropical forest remnants: ecology, management, and conservation of fragmented communities. Chicago: The University of Chicago Press, 1997. p. 351-365.

Downloads

Publicado

2013-01-31

Como Citar

CIELO-FILHO, R.; SOUZA, J. A. D. de; FRANCO, G. A. D. C. ESTÁDIO INICIAL DE SUCESSÃO EM FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL: IMPLICAÇÕES PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA. Revista do Instituto Florestal, São Paulo, v. 25, n. 1, p. 65–89, 2013. DOI: 10.24278/2178-5031.2013251421. Disponível em: https://rif.emnuvens.com.br/revista/article/view/421. Acesso em: 31 mar. 2025.

Edição

Seção

Artigos Científicos